“A canção está terminando, a voz
está no fim, o céu escurece agora; o som de cem milhões chorando, gritando, de
um povo ferido carregado pelo vento do fim de uma nação”.
O Japão sempre despertou em mim, uma curiosidade inexplicável. Não lembro quando esse fascínio começou, mas também
não importa.
Por isso, quando vi o livro do
David Peace nas prateleiras da Leitura, decidi comprá-lo por dois motivos: pela
história ser ambientada no Japão e por ser um romance policial (amo).
Tóquio Ano Zero foi uma
experiência intensa para mim. Ora senti raiva, ora senti uma tristeza-comoção-angústia
profunda. Comecei a leitura em dezembro passado e antes de chegar à metade
do livro, travei totalmente. Não conseguia avançar e nem desistir da
leitura, até que no final de fevereiro, decidi encarar de vez. O motivo da
minha parada, eu explico mais adiante.
A história é ambientada no
período do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), a partir do ano de 1945, em
Tóquio. O personagem principal é o inspetor Minami, da polícia metropolitana.
Ele e alguns companheiros recebem a missão de investigar o estupro e o
assassinato de duas adolescentes.
O pano de fundo dessa história é
o mais devastador possível, e, a gente percebe de cara, que Minami está super
traumatizado com toda a situação que vivenciou na guerra. Vou citar alguns
trechos para vocês terem uma ideia.
As sirenes e os alertas a noite toda; Tóquio quente e escura, escondida
e intimidada; dia e noite, boatos sobre novas armas, medo de novas bombas;
primeiro Hiroshima, depois Nagasaki, a próxima Tóquio...
Bombas que significam o fim do Japão, o fim do mundo...
Sem dormir. Só sonhos. Sem dormir. Só sonhos...
Noite e dia, é por isso que tomo esses comprimidos...
É isso o que eu digo a mim mesmo, noite e dia... (pag. 12).
(...)
“Detetive Minani! Detetive Minami! Detetive Minami!”
Há bandeiras tomabadas pelo chão, mas essas bandeiras não são
bandeiras, esses prédios não são prédios, essas ruas não são ruas –
Pois essa cidade não é uma cidade, esse país não é um país –
Eu como bolotas. Como folhas. Como ervas daninhas...
A voz de um deus no rádio –
Irreal e pesarosa...
Tudo distorcido –
O céu, um abismo...
Tempo desconexo –
O inferno, nosso lar...
Aqui agora –
Meio-dia e dez minutos do décimo quinta dia do oitavo mês do décimo
segundo ano do reinado do imperador Showa –
Mas esta hora não tem pai, este ano não tem filho –
Sem mãe, sem filha, sem mulher
nem amante -
Pois a hora é zero; o Ano Zero –
Tóquio Ano Zero (pag.34).
Até a leitura desse livro, David Peace era um ilustre desconhecido para mim. Confesso que no começo, a leitura foi difícil, pois fiquei estressada com o excesso de onomatopeias e repetições empregadas pelo autor. Por isso que eu bloqueei. Felizmente, dei uma segunda chance ao livro e não me arrependo. Esses recursos que citei acima, não são utilizados à toa. Tudo isso serve para reforçar a ideia de caos que o Japão mergulhou depois da II Guerra. Acho que todo mundo que estudou na escola sobre esse período, mesmo de uma forma elementar, sabe que o país foi vencido e devastado. Com a rendição, a condição de derrotado pôs fim a um sentimento nacionalista muito forte, o orgulho da nação foi profundamente ferido.
Até a leitura desse livro, David Peace era um ilustre desconhecido para mim. Confesso que no começo, a leitura foi difícil, pois fiquei estressada com o excesso de onomatopeias e repetições empregadas pelo autor. Por isso que eu bloqueei. Felizmente, dei uma segunda chance ao livro e não me arrependo. Esses recursos que citei acima, não são utilizados à toa. Tudo isso serve para reforçar a ideia de caos que o Japão mergulhou depois da II Guerra. Acho que todo mundo que estudou na escola sobre esse período, mesmo de uma forma elementar, sabe que o país foi vencido e devastado. Com a rendição, a condição de derrotado pôs fim a um sentimento nacionalista muito forte, o orgulho da nação foi profundamente ferido.
Ainda sobre o livro, o que achei mais interessante
é a maneira que o autor “costura” os fatos reais com os ficcionais. David Peace
fez uma pesquisa profunda (ele mesmo morou 13 anos no Japão) e desenha um
cenário tão caótico, que mais parece um “apocalipse zumbi”. Em vários momentos,
olhando pelos olhos de Minami, a descrição é tão real, que tive a sensação de
sentir os cheiros (nem sempre agradáveis) daquele lugar.
É um livro que recomendo, mas
aviso que não é uma leitura fácil. A linguagem em si é acessível, não é um
texto rebuscado, mas estranhei o excesso das repetições e onomatopeias.
Porém, de fato, Tóquio Ano Zero merece ser lido, pois ele vai além do romance
policial. O autor consegue transmitir o impacto e as consequências de uma
terrível guerra na vida de um povo. O sentimento do livro é bem pessimista, e por várias vezes me perguntei como o povo japonês conseguiu se
reerguer em tão pouco tempo, considerando que a II Guerra Mundial ainda nem
completou 100 anos. Não tem como passar incólume depois dessa leitura. Eu
fiquei muito balançada.
Beijokas!!!
Olá Mirian
ResponderExcluirFiquei curiosa
Boa noite!
AMIGA da MODA by Kinha
Deve ser um livro interessante. Misturar fatos históricos com ficção é bem legal, aida mais se o livro vier repleto de detalhes que te proporcionam uma verdadeira viagem no tempo.
ResponderExcluirParabéns pela leitura.