quarta-feira, 6 de março de 2013

Tóquio Ano Zero, David Peace

“A canção está terminando, a voz está no fim, o céu escurece agora; o som de cem milhões chorando, gritando, de um povo ferido carregado pelo vento do fim de uma nação”.
O Japão sempre despertou em mim, uma curiosidade inexplicável. Não lembro quando esse fascínio começou, mas também não importa.
Por isso, quando vi o livro do David Peace nas prateleiras da Leitura, decidi comprá-lo por dois motivos: pela história ser ambientada no Japão e por ser um romance policial (amo).
Tóquio Ano Zero foi uma experiência intensa para mim. Ora senti raiva, ora senti uma tristeza-comoção-angústia profunda. Comecei a leitura em dezembro passado e antes de chegar à metade do livro, travei totalmente. Não conseguia avançar e nem desistir da leitura, até que no final de fevereiro, decidi encarar de vez. O motivo da minha parada, eu explico mais adiante.
A história é ambientada no período do pós-guerra (Segunda Guerra Mundial), a partir do ano de 1945, em Tóquio. O personagem principal é o inspetor Minami, da polícia metropolitana. Ele e alguns companheiros recebem a missão de investigar o estupro e o assassinato de duas adolescentes.
O pano de fundo dessa história é o mais devastador possível, e, a gente percebe de cara, que Minami está super traumatizado com toda a situação que vivenciou na guerra. Vou citar alguns trechos para vocês terem uma ideia.

As sirenes e os alertas a noite toda; Tóquio quente e escura, escondida e intimidada; dia e noite, boatos sobre novas armas, medo de novas bombas; primeiro Hiroshima, depois Nagasaki, a próxima Tóquio...
Bombas que significam o fim do Japão, o fim do mundo...
Sem dormir. Só sonhos. Sem dormir. Só sonhos...
Noite e dia, é por isso que tomo esses comprimidos...
É isso o que eu digo a mim mesmo, noite e dia... (pag. 12).

(...)

“Detetive Minani! Detetive Minami! Detetive Minami!”
Há bandeiras tomabadas pelo chão, mas essas bandeiras não são bandeiras, esses prédios não são prédios, essas ruas não são ruas –
Pois essa cidade não é uma cidade, esse país não é um país –
Eu como bolotas. Como folhas. Como ervas daninhas...
A voz de um deus no rádio –
Irreal e pesarosa...
Tudo distorcido –
O céu, um abismo...
Tempo desconexo –
O inferno, nosso lar...
Aqui agora –
Meio-dia e dez minutos do décimo quinta dia do oitavo mês do décimo segundo ano do reinado do imperador Showa –
Mas esta hora não tem pai, este ano não tem filho –
Sem mãe, sem filha, sem  mulher nem amante -
Pois a hora é zero; o Ano Zero –
Tóquio Ano Zero (pag.34).

Até a leitura desse livro, David Peace era um ilustre desconhecido para mim. Confesso que no começo, a leitura foi difícil, pois fiquei estressada com o excesso de onomatopeias e repetições empregadas pelo autor. Por isso que eu bloqueei. Felizmente,  dei uma segunda chance ao livro e não me arrependo. Esses recursos que citei acima, não são utilizados à toa. Tudo isso serve para reforçar a ideia de caos que o Japão mergulhou depois da II Guerra. Acho que todo mundo que estudou na escola sobre esse período, mesmo de uma forma elementar, sabe que o país foi vencido e devastado. Com a rendição, a condição de derrotado pôs fim a um sentimento nacionalista muito forte, o orgulho da nação foi profundamente ferido.
Ainda sobre o livro, o que achei mais interessante é a maneira que o autor “costura” os fatos reais com os ficcionais. David Peace fez uma pesquisa profunda (ele mesmo morou 13 anos no Japão) e desenha um cenário tão caótico, que mais parece um “apocalipse zumbi”. Em vários momentos, olhando pelos olhos de Minami, a descrição é tão real, que tive a sensação de sentir os cheiros (nem sempre agradáveis) daquele lugar.
É um livro que recomendo, mas aviso que não é uma leitura fácil. A linguagem em si é acessível, não é um texto rebuscado, mas estranhei o excesso das repetições e onomatopeias. Porém, de fato, Tóquio Ano Zero merece ser lido, pois ele vai além do romance policial. O autor consegue transmitir o impacto e as consequências de uma terrível guerra na vida de um povo. O sentimento do livro é bem pessimista, e por várias vezes me perguntei como o povo japonês conseguiu se reerguer em tão pouco tempo, considerando que a II Guerra Mundial ainda nem completou 100 anos. Não tem como passar incólume depois dessa leitura. Eu fiquei muito balançada.

Beijokas!!!

2 comentários:

  1. Olá Mirian

    Fiquei curiosa
    Boa noite!


    AMIGA da MODA by Kinha

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  2. Deve ser um livro interessante. Misturar fatos históricos com ficção é bem legal, aida mais se o livro vier repleto de detalhes que te proporcionam uma verdadeira viagem no tempo.
    Parabéns pela leitura.

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